terça-feira, 7 de janeiro de 2014

A ARTE DE FALHAR PENALTIS

Se, há dois dias, o dr. Mário Soares sentia uma irreprimível vontade de falar de indigência cultural, podia ter escolhido como alvo o venerando chefe do Estado (laranja). Não o fez. Escolheu Eusébio.
Se, há dois dias, o dr. Mário Soares sentia uma irreprimível vontade de discretear sobre os malefícios do álcool, podia ter apontado os obuses ao grupo parlamentar do seu partido, onde facilmente encontraria especialistas na arte de decilitrar. Não o fez. Escolheu Eusébio.
Escolheu Eusébio e fez mal. Fez muito mal. O dr. Mário Soares devia saber (bastava perguntar aos seus camaradas Almeida Santos e Veiga Simão) que no bairro pobre onde nasceu e cresceu Eusébio não havia biblioteca e que no ambiente racista puro e duro de Moçambique os 'pretos' não eram estimulados para a frequência de 'meios culturais'. E também devia saber que o ambiente de estrelato futeboleiro não convida à leitura de Camões, Aquilino ou José Saramago...(o Germano - que lia Sartre e Kant - e o Guardiola - que discute literatura com o Enrique Vila-Matas - são excepções num meio em que os livros, em geral, e as gramáticas, em particular, têm tratamento semelhante ao das bolas - corridos a pontapé!).
E, depois, há ainda este pequeno pormenor: alguém se lembraria de dizer, no dia da morte de Saramago, que o homem não percebia nada de futebol? Alguém se lembraria de dizer, no dia da morte de Vinicius, que os seus versos nadavam em copos de whisky? 
O dr. Mário Soares falhou dois penaltis. Não tem importância. O Eusébio já tinha ganho o campeonato.